segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

FAB nega pane em avião com Teori e cita ‘desorientação espacial’ do piloto

A Força Aérea Brasileira (FAB) divulgou nesta segunda-feira (22) um relatório no qual informou que não há registro de pane ou mau funcionamento no sistema do avião que caiu com o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), em janeiro do ano passado.

Responsável pela investigação, o coronel Marcelo Moreno informou que o piloto do avião, Osmar Rodrigues, “muito provavelmente teve uma desorientação espacial que acarretou a perda de controle da aeronave”.
Segundo a FAB, Rodrigues era “experiente”, mas na hora do acidente a visibilidade estava “restrita” e, com isso, não havia condições mínimas para pouso e decolagem.
Questionado sobre se, diante disso, o piloto não deveria ter tentado pousar, Marcelo Moreno respondeu que as condições meteorológicas “tornavam impraticável o pouso e decolagem no aeródromo de Paraty naquele momento, porque estavam abaixo dos mínimos meteorológicos que são de cumprimento obrigatório a todos que utilizam o espaço aéreo brasileiro que existem para tornar o voo seguro.”
Teori e mais quatro pessoas morreram no acidente – relembre mais abaixo.
Saiba abaixo as 11 conclusões às quais a FAB chegou:
  1. Não foi identificada qualquer condição de falha ou mau funcionamento da aeronave;
  2. Não se evidenciaram alterações de ordem médicano piloto;
  3. O aeródromo de Paraty permitia somente operações sob regras de voo visual;
  4. O campo visual do piloto estava restritoe com poucas referências visuais;
  5. Foram realizadas duas tentativas de pouso;
  6. As condições de voo encontradas favoreciam a ocorrência de ilusão vestibular por excesso de G e deilusão visual de terreno homogêneo;
  7. Houve perda de controle e a aeronave impactou contra a água, com grande angulo de inclinação das asas;
  8. A visibilidade horizontal estava abaixo da recomendada;
  9. A cultura de trabalho presente à época entre o grupo de pilotos que operavam na região de Paraty favorecia a informalidade em detrimento dos requisitos mínimos estabelecidos para a operação sob regras de voo visual;
  10. No que diz respeito ao acidente, pode-se concluir que essa cultura influenciou a tomada de decisão do piloto, o qual, a despeito de encontrar condições adversase do seu estado emocional frente à situação vivenciada, optou por insistir na tentativa de pouso;
  11. A análise dos parâmetros de voz, fala e linguagem indicou traços de ansiedade no piloto. O estado emocional em que o piloto se encontrava pode ter influenciado a sua decisão de realizar uma nova aproximação, apesar de não ter havido melhoria das condições meteorológicas.
O acidente completou um ano no último dia 19 e, nesta segunda, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da FAB apresentou o relatório sobre as investigações.
O Cenipa não aponta culpado num acidente aéreo. Apresenta fatores que contribuíram para a causa do acidente, de forma a evitar novos desastres aéreos.
Visibilidade
Segundo Marcelo Moreno, responsável pela investigação, a apuração da FAB identificou que a visibilidade na baía de Paraty estava abaixo da recomendada para operações.
Segundo Moreno, essas informações estavam disponíveis ao piloto do avião.
O coronel disse, ainda, que Osmar Rodrigues tinha quase 7,5 mil horas de voo e, somente na aeronave que caiu, KingAir C90, quase 3 mil horas.
Segundo o coronel da FAB, Rodrigues pilotava o avião desde 2010 e, nos 12 meses anteriores ao acidente, havia feito 33 voos com destino a Paraty – o piloto estava com a documentação em dia.
O que provocou as mortes das vítimas
De acordo com o relatório do Cenipa, a principal causa da morte das cinco pessoas a bordo do avião foi politraumatismo, ou seja, os impactos causados pela queda da aeronave.
“Ainda que tenha sido divulgado que um dos tripulantes foi encontrado com vida 40 minutos após o acidente, o afogamento foi causa acessória do acidente. A causa mortis foi politraumatismo”, disse Marcelo Moreno nesta segunda.
Recomendações à Anac
O relatório do Cenipa apresenta recomendações de segurança à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em uma dessas recomendações, o centro pede à Anac que divulgue os “ensinamentos” derivados da investigação no que diz respeito à necessidade de observância dos requisitos mínimos de operação sejam valorizados.
O órgão também recomenda à Anac revisar os requisitos existentes para enfatizar, durante a formação do piloto civil, as características e os riscos decorrentes das ilusões e da desorientação espacial para a atividade aérea.
Relembre
Em janeiro de 2017, o avião com o ex-ministro decolou do Campo de Marte, em São Paulo, com destino a Paraty, no Rio de Janeiro.
Chovia forte na hora do pouso, e o piloto chegou a arremeter e tentar pousar novamente, quando a aeronave caiu no mar.
Além de Teori, então relator da Operação Lava Jato no STF, morreram o empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, a massoterapeuta Maira Lidiane Panas, a mãe dela – Maria Ilda Panas – e o piloto Osmar Rodrigues.
Após a morte do ministro, coube ao presidente Michel Temer indicar um substituto para a Corte. O escolhido foi o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que teve o nome aprovado pelo Senado. Moraes herdou cerca de 7,5 mil processos.
G1